terça-feira, dezembro 14, 2010
Da Isabela
"Tenho muito para dar à literatura, pensei há bocado. Depois reformulei, mentira, estou-me cagando para a literatura, em geral, e portuguesa, em particular. A literatura é que tem muito para me dar, na medida em que possa absorver o que me apetece escrever, não o que seja apropriado ou útil ou sirva os valores altíssimos do Sistema, seja qual for a tendência. Escrever umas redações a que outros chamam literatura dá algum jeito, permitindo poupar uma fortuna em psicanálise, e o efeito é o mesmo. O recetor é constituído por uma massa de cérebros e vozes capazes de articular huns-huns enquanto vou atirando à fogueira demónios impossíveis de queimar, debitando matéria, estabelecendo relações, sintetizando. De resto, estou-me cagando de alto para os temas importantes, para a ficção, para a narrativa, para a História, para ser muito séria e ficar bem nas fotografias. Não me interessa pensar a literatura nem os escritores nem definir-me assim ou assado."
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