quarta-feira, outubro 26, 2005

pessoas (1)

Chego a Malpensa e procuro o autocarro. O motorista, fardado, dormita no banco da frente, mãos atrás da cabeça, recostado. Faltam 15 minutos, diz-me. Passados 5 chama-me e entro. Chega outro passageiro, falam em inglês. O passageiro é norueguês, o motorista, filipino, quer conversar e pede-lhe que se sente perto dele "não vá para trás, fique aqui". Pergunta-lhe o que pensa da Filipinas, o passageiro esforça-se "...como noutras ex-colónias espanholas, a arquitectura é inconfundivel..." "e a pobreza" interrompe o motorista, "antes tivessemos sido colonizados pelos ingleses!".

terça-feira, outubro 11, 2005

paisagem (1)

Via-se ao longe o sol caindo vagamente no mar através da névoa a cada dia mais presente que vinha a arrefecer o Verão. Os bancos de nevoeiro chegavam sem aviso para quem não se entregasse à contemplação do horizonte. Partiam após uma hora, duas ou três, deixando entregues ao sol as searas, a areia e as ruas brancas. Nas arribas ainda se conseguia sentir o odor das estevas e das ervas rasteiras, povoadas a espaços por garrafas de agua vazias, de plástico distorcido e transparente, por restos de jornais e papeis sujos e sacos, por flores de jarros sobreviventes das ribeiras de Março, tudo coberto de poeira fina retirada lentamente à arriba e de sal arrancado ao mar pelo vento em finas gotas de maresia.